”A tempera de uma alma é dimensionada na razão direta do teor de poesia que ela encerra” (Horácio Quiroga)

sábado, 17 de outubro de 2015

Alegoria sobre uma rainha nua

Um oficial da guarda armada real
Enfezado e brusco, convocou o rei:
Que venha até mim sem detença, já!
O velho e gordo rei, ladino, cismou:
O que pretendia aquele bruto oficial,
Assim tão besta, soberbo, sedicioso?
 
Ordenou então o rei: Prendam-no!
Um general foi mandado às pressas
Para cumprir, incontinenti, a missão.
No pátio, se defrontaram, solenes,
General e oficial, ambos sonolentos.
Fitaram-se, mudos, por algum tempo.

Então, conversa vai, conversa vem,
Quem se danou, no final, foi o rei, 
Que morreu assustado e sem coroa. 
A viúva rainha saiu a cavalo, nua,
Para cumprir o nojo, indispensável.
Mas casou-se na sexta noite do luto.

O novo marido era um velho lobo,
O líder de uma alcateia iracunda
Com quatrocentos cânis decididos.
A rainha fogosa queixou-se ao lobaz, 
Canídeo voluptuoso e insaciável:
Queria vingança, lavar a honra real.

A única batalha, pelo que se sabe,
Deu-se na via láctea, ao fim de junho.
Vitoriosos e derrotados, viraram pó.
A rainha, nua, talvez tenha sido salva.
Especula-se que tenha ido para a lua
E, de lá, orientado uma ação da NASA.

Segundo alguns demônios selênicos,
Ela falava diretamente com o Aldrin,
Pois do Armstrong ela não gostava.
Dizem que ela ergueu dezoito castelos;
Todos fantásticos, feitos apenas de pó,
No centro do Oceano da Tranqüilidade.

Alguns, desses demônios, segredam
Que a dita rainha era muito perversa;
Que como aliada dos Estados Unidos
Teve importante e efetiva participação
Em alguns golpes na América do Sul.
Recebeu pelo trabalho, treze bananas.

Hoje ela vive, taciturna, em Cubatão.
Fumegando um pó sujo o tempo todo,
Tornando os dias nebulosos e tristes.
Recebeu um salvo conduto da FIESP
E pode fumegar imundice a vontade.
Em março, deve vir à Angra dos Reis.





Nenhum comentário:

Postar um comentário