”A tempera de uma alma é dimensionada na razão direta do teor de poesia que ela encerra” (Horácio Quiroga)

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Um Rio

O rio da minha infância
              Era muito largo.
A aventura de um mergulho
              Pedia reflexões,
              Consultas à razão;
E a razão, árbitra serena,
Reprimia o impulso.
Mas não suprimia, juvenil,
O incitamento perdurante.

E, por experimento,
Deu-se o ato,
Em recém-nascida manhã,
Quando, à primeira luz,
As caramboleiras exibiam
              Diáfanos frutos
              E coleirinhos ligeiros
              Saudavam o dia
              Em longos tui-tuis.

Tibum!
Primeiro o frio barrento,
Depois, olhos abertos,
A túrbida corrente.
Então, a luta feroz:
Membros frágeis,
Peito delgado,
Na peleja molhada
              Sem testemunhas.

A cada minuto passado,
A cada metro vencido,
Mais próxima estava
              A oposta margem,
              O prêmio pretendido,
              A recompensa da ousadia.

Os minutos passados,
Os metros vencidos,
A tarefa árdua
              Cumprida enfim;
A margem atingida e
              O triunfo desfruído.

A volta foi seca, pela ponte,
Pois que a ousadia
              Tinha certos limites
              E se impunha.

Hoje, quando o observo,
Este rio, o de agora,
Já não me parece
              Tão largo assim.

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