”A tempera de uma alma é dimensionada na razão direta do teor de poesia que ela encerra” (Horácio Quiroga)

domingo, 6 de dezembro de 2015

Brisa da manhã

Manhãzinha, bem cedo,
Por vezes ainda escuro,
Ela ia entrando pela janela,
Que já se fazia aberta
              Par a par, àquela hora;
A espera, convidativa.

No outono vinha fresca,
Perfumada nos jasmineiros,
Varria o aposento, calma,
E escapava, nua, pelo corredor.

Por vezes não vinha,
E eu a esperava ansioso
              Olhando da janela, desde
              O canteirinho encostadiço
              Até os mamoeiros altos,
Apinhadinhos e retos.

No inverno chegava gelada,
Banhada no orvalho matinal

              Impregnada pelos narcisos e
              Pelo vermelho das suínas.

Se não vinha bem cedo
              (talvez dormisse ainda),
Restava, ao menos (consolo)

              O prolongamento do sono,
Provocando breves sonhos,
Voantes e ligeiros.

Na primavera era buliçosa.
Com o perfume das gardênias
              Inspirava amores novos ou
              Fazia recordar os antigos.

E como era bom senti-la.
Ser por ela envolvido e
              Arrastado para os cúmulos
              (Algodões longínquos),
Flutuando desprendido
              Pelo azul sereno da manhã.

No verão, quando aparecia,
Vinha morna e preguiçosa;
Indolente hálito doce
              Das rosálias floridas.

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