”A tempera de uma alma é dimensionada na razão direta do teor de poesia que ela encerra” (Horácio Quiroga)

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Scarpín vermelho

No negrume da madrugada,
o scarpin vermelho chapinha na calçada imunda

              o resto da fria chuva caída na noite sem fim.

Na ginga do errante se adivinha o peso da morte
              que agora mesmo pousou, fresca e definitiva,
no talho profundo que lhe rasga o ventre.


A luz baça que desce,
faz flamejar irregulares e fugidios filetes carmins,
logo diluídos no torvelinho da sarjeta.


O pouco de vida ainda ginga teimoso
              no molhado passadiço do nada,

mas a morte já lhe tem a posse
              e dona absoluta do que fora vida,
já abandona o corpo caído,
cujos olhos, abertos, brilham na luz baça, que desce.

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