Ah, essa paixão latente, mas tão pulsante, Finalmente se revelará em toda plenitude, Quando, enfim, nossos corpos se fundirem Sob os fulgores desse entardecer de outono.
Se puder, me conceda o prazer de ser meu par nessa dança, onde os mortais se desintegram nas purpúreas cores do desejo, onde homem e mulher, ligados, desgarram-se das amarras e se volatilizam, sublimes na eternidade do prazer.
Posso te magoar agora por não me dar a ti; Entendo que não vás gostar, mas quando amadureceres, a mim serás grata por te ter fechado o meu velho coração.
Sentado no tombadilho, olhava a madrugadinha, com as águas marulhando nas bordas da fragatinha. Cheiro de mar! vento fresquinho de lado balançando a mastreção e o sol que chega abrasado. O albatroz solitário Voa ligeiro e distante, enquanto a marujada se dobra no seu talante. Já se percebe os contornos do baixo casario praiano, mastros balançantes no porto e na praia o frajola gaiano. Quarto então terminado, é descer à camarinha, deitar no catre apertado e pensar na caiçarinha.
Viva cada dia com prazer, invente e reinvente a vida; corra livre, sem amarras, seja firme em sua individualidade, faça o que deve ser feito para ter uma vida colorida. Dance, cante, mergulhe; voe aos cirrus, flutue liberta entre os fios dos brancos algodões. Olhe o mundo com cauta distância e despojada de preconceitos.
Sempre estive, Estou E, caso não morra, Sempre estarei! Isso "pra não dizer que não falei de (certas) flores". Pois sei que delas jamais colherei, Pois sei que delas não verei a beleza, Pois sei que delas não sentirei o perfume. O que delas somente sei (um inseto me contou), É que foram mal plantadas, Que foram mal cuidadas E deixadas ao acaso. Essas coisas que o Homem faz (Tão superior), Assim como matar um inseto.
O vaso com meu antúrio
partiu-se! O antúrio feriu-se,
Não suportou o traumatismo
e morreu flor, primavera.
Como serão agora as manhãs,
sem o meu antúrio para alegrá-las?
Ah, tenho aquela begônia
de cor tão delicada e sedosa;
vou ajeitá-la, trocar-lhe o vaso
e trazê-la para esse canto.
Aqui o sol chega bem manso,
bastante para lhe acariciar das folhas.
Flores, flores, tantas flores, carminadas, azuis, brancas, lilazes; colibris revezam-se iridescentes e ligeiros diante do generoso banquete a eles oferecido.
A colombina teceu A mortalha do cafifa, Entendendo que o nada É a outra parte do talvez. Em nove meses Gestou e pariu um parvo, O herdeiro do caburé, Mas este foi natimorto. Depois disso se passaram Vinte e nove luas E de novo a prenhez Acometeu a devassa. Nasceu uma flor, Uma madressilva, E a colombina sossegou, Definhou e morreu.
Outono, primavera, verão... (e ainda há o inverno). Orquídeas, petúnias, lírios... (e ainda há o antúrio). A sabedoria consiste em aprender-se com eles.