”A tempera de uma alma é dimensionada na razão direta do teor de poesia que ela encerra” (Horácio Quiroga)

segunda-feira, 27 de junho de 2016

Sexta-feira

Não sei bem que horas são
              (meu roscoff parou às nove),
mas observando a minguante,
já bem altinha e clareante,
podem ser duas, duas e meia,
talvez  três, três e quinze,
hora de levantar acampamento
              por que a vida não acaba hoje

Ainda que me agrade sobremodo
              o sopro delicado da noite fresca,
que leva para além da rua deserta
              meus vapores etílicos,
impregnados desse rum ordinário
             que tanto me aviva a alma,
vou pedir a conta e "picar a mula",
que a hora é essa e o sono chega.

Todavia já é madrugadinha,
não há mais lotação no ponto.
no táxi vou deixar uns vinte e sete;
acho que vou a pé, nesse fresquinho.
Não, a pé os meganhas me arrocham
              ali pela curva da ponte velha;
Subtraem a minha grana e o meu roscoff.

Melhor é negociar na pracinha
              uma corrida com o Dino, o pai,
pois com o Dino filho é doloroso;
talvez saia por vinte, vinte e dois...
É isso ou perder cento e trinta
              (o salário minguado da semana)
              para os meganhas degenerados
              e ainda levar uns sopapos doídos.

Espera... Olha que já me esquecia!
Posso muito bem passar a noite
              na casa da Zulmirinha, minha prima
              recém desquitada, que mora logo ali,
pepois da subida do Cine Palácio.
Mas a prima deve estar dormindo
              e a insone tia Bilu não me recebe,
temerosa do apetite da filha.

Vou é logo falar com o Dino velho,
entrar no De Soto cinqüenta e um
              e cochilar no estofado amaciado,
tratado com benzina pelo florentino.
Dez minutos na estrada e pronto;
me safo dos meganhas cretinos,
de tocaia na curva da ponte velha
              e durmo tranquilo, pois já é sábado.

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