”A tempera de uma alma é dimensionada na razão direta do teor de poesia que ela encerra” (Horácio Quiroga)

sexta-feira, 8 de julho de 2016

Desmaio

Primeiro foi uma explosão,
Abafada, muito lá dentro de mim,
Uma explosão contida, curta;
Um inverso da criação.
Posteriormente a sensação de luz:
De início um violeta suave, doce,
Em seguida, vermelhos e laranjas,
Quentes, ácidos, despertantes,
Em uma revolução crescente,
Com movimentos centrípetos.

Num dado instante tudo cessou,
Um vazio completo se fez
              E uma névoa de alvor cintilante,
Etérea, vigorosa, sobranceira,
Dominou o vazio, completando-o,
Fartando-o de substância vital.
Então, sobrevieram os sons.
Pareceram-me oboés, vários oboés,
No entanto poderiam ser requintas
              Ou, quem sabe, flautas transversas.

Somente depois, bem depois,
Vieram as sensações físicas:
Vozes, odores, um frio viscoso
              E uma intensa dor por todo corpo.
Uma mão tocava, leve, meu pulso;
Um nauseante burburinho sufocava.
Quando abri os olhos, vi a terra,
Suja, áspera, seca; elemento tão vital.
Percebi ainda minúscula formiga,
Que docemente acarinhava minha mão.

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